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Imparcialidade não existe. Mas também não precisa avacalhar.

ClarionApr 19, 2020, 1:23:58 PM
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Virtudes humanas nunca são absolutas.  Ninguém é absolutamente bondoso, nem absolutamente paciente, nem absolutamente cuidadoso, nem nada. Todos nós, seres falhos que somos , muitas vezes deixamos essas virtudes e nossos valores de lado, seja inconscientemente, seja de propósito.

Imparcialidade é um desses valores que está sempre em discussão. Seja no jornalismo, seja na sala de aula, seja na narração do futebol... sempre tem alguém falhando na observação desse valor. Sempre há pessoas acusando alguém de ser tendencioso,  de favorecer ideologia A ou B, de mostrar apenas o ponto de vista de um dos lados.  Às vezes as críticas são válidas, às vezes são exageradas. Mas existem. Porque a imparcialidade, enquanto virtude, está sempre falhando.

Até aí, tudo bem. É totalmente compreensível, e esperar a perfeição de outra pessoa seria, pra começo de conversa, uma baita hipocrisia.  Muitas vezes, o verdadeiro valor dos nossos valores é que eles são difíceis de observar. Exigem um bocado de esforço, consciência, renúncia e autocrítica. É exatamente por serem difíceis e escassos que são chamados de valores.

Uma parcela da população, no entanto, resolveu simplesmente chutar o balde e parar de se importar. "Imparcialidade não existe",  dizem eles, deixando marotamente implícito um "absoluta" no meio da frase. E, se imparcialdiade absoluta não existe, no discurso deles isso serve como desculpa para ser desavergonhadamente tendencioso. Mais que isso, é uma justificativa para que eu exija do Estado, da Mídia, das Escolas, que sejam tendenciosos, para o lado que eu escolher. 

De repente, se um jornal mostra uma notícia sem ouvir uma das partes envolvidas, é ok. Se um comentarista intencionalmente omite fatos para favorecer determinado ponto de vista, tudo bem. Se um professor prega sua ideologia para os alunos, tudo bem. Desde que estejam favorecendo o "lado certo" (o lado que quem faz o argumento, obviamente), ser tendencioso não é apenas ok, é louvável.

Quando substituímos por outras virtudes, fica claro o quanto esse raciocínio não faz sentido. Ninguém fala sempre a verdade, logo eu posso ser totalmente mentiroso com todo mundo sem peso na consciência. Ninguém é 100% gentil, logo eu posso ser uma máquina de grosserias ambulante. Ninguém é totalmente educado, logo eu posso sair por aí chutando todo mundo no meu caminho.

Não é assim que as coisas funcionam. Mas de repente, no assunto "imparcialidade", isso virou argumento. Porque a galera do "senso crítico" decidiu que, desde que seja a favor das crenças dela, ser parcial é ok. O ensino religioso precisa ser laico. Mas todo o resto da educação, deve ser confessional.