Cientificamente, é relevante descobrir se existe ou não um “gene gay”. Mas socialmente saber se existe ou não esse gene é tosco e infundado para garantir direitos às pessoas.
É que “ser natural” não é prerrogativa para garantir direitos. Um câncer é natural, devemos dar direito a ele de se desenvolver? Obviamente, não. Isso porque direitos fundados em naturalidade não significam, necessariamente, coisas boas — podem, pelo contrário, justificar coisas ruins, como por exemplo você ser canhoto e, por isso, ser forçado a escrever com a mão direita (como por muito rolou no Brasil dada a tradição cristã que via no canhotismo algo errado). Ser ou não natural independe da garantia de direitos, porque coisas naturais não são necessariamente nem boas nem ruins — são nossas interpretações sobre elas que dizem isso, não sua “essência”.
O que importa para o homossexual é algo anterior à sua orientação sexual: é o mero fato de ser senciente e ter interesse em sua própria vida.
Não se trata de dizer que as pessoas são um fim-em-si-mesmas, mas de diagnosticar que, ao diluir todas as características que há entre homossexuais e não-homossexuais, o auto-interesse e a senciência são um mínimo denominador comum. Logo, para garantirmos nossa própria dignidade de forma fundamental, devemos resguardar a dignidade deles.
Você não precisa gostar de homossexuais para reconhecer que são “gente”. Você só precisa utilizar sua própria razão, e mesmo ser um pouco egoísta, pra ver que a sua dignidade está relacionada à dignidade alheia. Você simplesmente não está acima de ninguém, porque ninguém está acima de você (moralmente falando, claro).