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Antifascista é diferente de Antifascismo.

Vini BarbosaJun 3, 2020, 5:28:26 PM
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Antifascista é diferente de Antifascismo.
E não, antifascistas não são fascistas.

O maior problema do movimento ANTIFA atual é que ele se autodenomina [ANTIFASCISTA] e não [ANTIFASCISMO], gerando complicações que derivam dessa diferença, à primeira vista, inexistente.


1. Antifascismo = Movimento, opinião ou sentimento contrário ao fascismo.
2. Antifascista = Movimento, opinião ou sentimento contrário à indivíduos que praticam ou apoiam o fascismo.



Em um dos termos (1) definimos o combate à ideologia, enquanto no outro (2) definimos o combate aos praticantes ou apoiadores da ideologia.

A falha em combater o indivíduo e não a ideia é que por mais que alguns indivíduos sejam neutralizados, a ideia que os formou permanece ativa formando novos fascistas.

O método mais eficaz para combater uma ameaça como o fascismo (e outras ideologias genocidas) é agir diretamente contra os princípios dessa ideologia demonstrando que ela é antiética, imoral e atua ativamente como ameaça existencial ao ser humano.

Citando o filme V de Vingança: “Ideias são a prova de bala”.
Ideias se combatem com ideias.

Este combate ideológico realmente ocorreu e teve seu mérito.
Hoje, algumas ideologias totalitárias como o fascismo e o nazismo já são condenadas no senso comum.
É muito difícil você encontrar alguém que realmente defenda o fascismo ou o nazismo.

Mas porque então o que “pegou” foi o termo antifascista e não o termo antifascismo?
E porque ele está sendo usado repetitivamente se essa ideia já foi vencida lá atrás?

Contexto histórico.
O termo antifascista foi criado durante a segunda guerra mundial.
Um momento histórico de alta polarização política, violência sistêmica, conflitos sociais de larga escala e censura ideológica ativa.

Ou seja, alguém que era contra o fascismo dificilmente conseguiria realizar um combate direto em oposição a ideia.
A censura garantia isso.

Essa censura só era possível através do uso da violência ou da ameaça do uso da violência.
A única maneira então do antifascismo evoluir neste cenário era, também, através da violência.

“Ideias são a prova de bala”, mas indivíduos não.
Para que o antifascismo existisse, antes era necessário existir o antifascista.
O segundo é criado para permitir o primeiro e não o contrário.

Voltemos agora ao cenário político atual.

O sucesso de alguém no sistema democrático presidencialista é baseado na capacidade de convencer.
Não de resolver problemas.
Não de trazer um melhor convívio social.
Convencer.

Para piorar a situação, as “escolhas” democráticas são limitadas à um número controlado de representantes previamente aprovados. Com um número limitado de escolhas, a maneira mais fácil e menos custosa de convencer a população de que “você é a melhor opção” é convencendo as pessoas de que “o adversário NÃO é a melhor opção”. Diferentes táticas são utilizadas com esse fim.

A forma mais eficiente de convencer é “mostrar” que o adversário representa uma ameaça existencial aos indivíduos (eu e você). O medo está ligado ao nosso instinto de sobrevivência e, quando essa sobrevivência é ameaçada, nos tornamos mais suscetíveis a escutar alguém que promete eliminar essa ameaça.

O problema é que para “mostrar” a tal ameaça existencial não necessariamente é necessário que essa ameaça realmente exista e tão pouco é necessário o uso da verdade.
Meias verdades difíceis de serem comprovadas cumprem perfeitamente com o papel.

Qual é a ameaça existencial preferida da democracia?
A ameaça à própria democracia.
Regimes totalitários históricos, já aceitos no senso comum como ameaças existenciais à humanidade.

Vejam bem, essa parte é importante.

O uso da acusação do fascismo SÓ é tão eficiente pelo fato do fascismo já ser moralmente condenado por uma AMPLA maioria de pessoas.


A ideia fascismo foi tão eficientemente combatida pelo movimento antifascismo do passado que dificilmente ela conseguiria voltar a ser uma ameaça real já que os indivíduos, em conjunto, imediatamente impediriam qualquer ascensão dessa ideologia ou de pessoas que ativamente apoiam ou pratiquem essa ideologia em seu sentido puro.

Percebem o paradoxo?

O argumento de convencimento só é efetivo porque a ideia é socialmente repudiada, mas mesmo sendo socialmente repudiada, ele ainda é forte o suficiente para convencer as pessoas de que essa ideia não é socialmente repudiada e de que realmente existe um grupo de pessoas suficientemente grande para que a ameaça ainda seja real.

“Acusar” o adversário político de comunista não é tão efetivo como acusar o adversário político de fascista porque o comunismo ainda é uma ideia viva com um grupo de pessoas suficientemente grande apoiando essa ideologia.

Então mesmo que o termo comunismo esteja diretamente ligado a regimes totalitários e genocidas como o de Stalin, a ideia, por não ter sido efetivamente combatida no passado, continua formando indivíduos comunistas que simpatizariam com as opções políticas “acusadas” de praticantes ou apoiadoras desse regime e surtiriam o efeito contrário do pretendido pelo acusador.

Em resumo: O comunismo, por ser uma ameaça existencial real não é um bom argumento de convencimento de ameaça existencial para o populismo.

A partir do momento que a ideia já não existe, não há nada o que combater.
A alternativa então é combater indivíduos que supostamente apoiam/praticam essa ideia.

Nesse momento qualquer traço de características presentes no fascismo (mas que sozinhos não compõe a ideia como um todo) são usadas como meio de identificar os “fascistas”.

Não estou dizendo que algumas dessas características não devam ser combatidas, ou que elas não ofereçam uma ameaça real à outro grupo de indivíduos.
Muitas vezes elas oferecem sim e muitas vezes são sim problemas sistêmicos.

A questão é que a forma de combate escolhida é a mesma que foi escolhida no passado, em um contexto histórico completamente diferente, contra uma ameaça completamente diferente e de forma completamente desproporcional.

Nessa grande confusão muitas vezes são usadas, inclusive, justificativas falsas, espontâneas ou não.
Um exemplo de justificativa falsa criada de forma espontânea poderia ser dizer que determinado símbolo presente em uma manifestação é de um grupo fascista, quando não o é.

Vamos lá.

(1) Para combater um adversário político de forma efetiva, precisa-se convencer as pessoas de que ele é uma ameaça existencial.

(2) Para convencer o maior número de pessoas de forma efetiva, preciso que a ameaça existencial seja aceita pelo maior número de pessoas possível.

(3) As ameaças existenciais aceitas pelo “maior número de pessoas possível” são ameaças que já não são mais reais em sua forma completa exatamente por serem tão significantemente aceitas como ameaça por tantas pessoas.

(4) Como elas já não são mais reais, é preciso torná-las reais.

(5) Para isso é necessário “liberdade poética” na interpretação do que define essas ideologias ameaçadoras, flexibilização de conceitos, falsas assimilações ou assimilações relativas.

(6) E por fim, é preciso continuamente alimentar essa ameaça.
Alimentar, alimentar e alimentar, até ela tornar-se real outra vez.

Esse fenômeno, com o tempo, começa a gerar uma série de efeitos colaterais sociais como (1) a aprovação sistêmica do uso da violência e (2) a polarização do espectro político.

Ambas características presentes no regime totalitário original.


E é nesse cenário que o movimento de ação direta contra os indivíduos renasce.

Já não é mais suficiente apenas combater a ideia, é preciso usar da violência para combater o inimigo (efeito colateral 1).

Quem é o inimigo? Graças ao efeito colateral de polarização do espectro político, o inimigo passa a ser, não só aqueles que ativamente praticam ou apoiam a ideia que se diz combater, mas todos aqueles que estão em um espectro político diferente do espectro do próprio movimento.

A definição de “fascista” deixa de ser “indivíduos que apoiam ou praticam o fascismo” e passa a ser “indivíduos que não concordam com a nova definição de fascismo e oferecem resistência ao movimento antifascista”.

Percebem a gravidade do problema?

Um movimento criado para combater um regime totalitário intolerante à oposição passa a se transformar em um regime cuja razão de ser é não tolerar qualquer tipo de oposição.

Não digo que antifascistas sejam fascistas.

Fascismo é outra coisa.

Mas o movimento antifascista está sim se tornando um movimento totalitário que já não combate mais o fascismo. Combate outra coisa. Combate a oposição.

O movimento passa a assumir uma característica de auto-preservação, onde a única possibilidade de manter-se vivo é atacando através da violência (e da ameaça do uso da violência) qualquer um que se oponha a ele no âmbito das ideias.

Infelizmente, o movimento não é deturpado de forma proposital, mas sim como consequência de uma séria de problemas gerados pelo estatismo.

A grande maioria (se não todos) dos membros do movimento realmente acreditam estar combatendo o fascismo.
Realmente acreditam que não sejam, eles próprios, uma ameaça existencial à outros indivíduos inocentes e à liberdade.

Reconhecer que o são, desafia a consciência, o ego e uma série de sacrifícios realizados por eles próprios em momentos anteriores.

Nessa hora acontece a negação e a tentativa de transformar em inimigo todo aquele que tente revelar o monstro do outro lado do espelho.

Essa ideia falha se combate através da ideia.

Se combate sem cometer os mesmos erros que eles e tantos outros movimentos cometeram na história.

Como libertários, devemos tomar o constante cuidado para não seguir o mesmo caminho.

Comecemos por chamar as coisas como elas são e compartilhar ideias construtivas e éticas.

Pela liberdade, através da liberdade.